Soldado novo que tão triste andas na guerra,

Ou te lembra pai ou mãe, ou gente da tua terra ...

Não me lembra pai, nem mãe, nem gente da minha terra,

Só me lembra a minha amada que era linda donzela.

 

Se a quiseres ir ver, sete meses t'eu darei,

Ao fim dos sete meses às armas t'eu chamarei.

Soldado apenas ouviu, ao caminho se deitou,

Chegou a meio do caminho o pecado o encontrou.

 

Onde vais soldado novo, onde vais agora aqui?

Eu vou ver a minha amada, já há muito que a não vi!

Tua amada já é morta. Já é morta, eu bem a vi.

Sem me dizeres os sinais dela não me acredito em ti.

 

Os sinais que ela levava eu tos digo agora aqui:

Os sapatos eram de d'ouro, as meias de marafim.

O caixão que ela levava era de pau de alecrim.

Eu vou-lhe falar à campa, a ver se ela me fala, a mim.

 

Fala-me Dona Isabel, fala-me que eu estou aqui.

Como queres tu que te eu fale? Eu estou morta, já morri,

A boca com que te beijava, já de terra a eu enchi,

Os braços com que te abraçava, tenho-os em cima de mim.

 

Se te chegares a casar, vai te casar a Valedim,

Que lá está uma menina que se chama com' a mim.

Quando falares em Isabel, sempre te lembras de mim.

Se chegares a ter filhas leva-as diante de ti,

Que não se percam por os homens, como eu me, por ti, perdi.

 

Vou vender o meu cavalo para dizer missas por ti,

Se o meu cavalo não chegar, também me vendo a mim.

Não vendas o teu cavalo, menos te vendas a ti,

Quanto mais bem me fizeres, mais eu padeço por ti.

 

Deu um Ai subiu aos Astros, ao mais alto Paraíso,

Adeus Ó Dona Isabel, inte ao dia de Juízo ...

 

- Memórias de Maria do Patrocínio

 
 

 

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