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"Histórias, Lendas  e   Contos
 do meu Chão"

 

Livro de José Ramiro Moreira
contacto

 

 

 
     
 notícias na imprensa regional
sobre o lançamento do livro:

 

'Livro com a dimensão de um povo'
A. Ventura
in 'A Comarca de Arganil'

 

'uma esplêndida monografia'
Francisco Antunes

in 'Folha do Centro'

 

'Chão Sobral em livro'
J. Vasconcelos
in 'Jornal de Arganil'

 

'A propósito do livro de José Ramiro'
Francisco Antunes
in
'A Comarca de Arganil'

 

 

histórias para a 3ª edição:

Vida de São Lourenço

Quando nevava no Avelar

A pilheira da cozinha

Os Alunos do Padre Nogueira

A Mulher da praga

Os Velhos do Colcurinho

O chapeleiro espanhol

A Festa de Santo Antão

A casa da Genoveva

O pregão do homem do sarro

Versos que os cegos cantavam

Uma primeira Romaria que vi

O fumeiro

Cavacas de Aldeia

José Alves Capela e Silva

O Poço da Saúde

Os últimos Dinossauros

Um enterro para Aldeia

O primeiro "Castanheira"

+ uma "galga"

Os meus avós maternos

O Castanheiro da Botica

Homenagem aos castanheiros

Valores do Colcurinho

A discutir política

O Primeiro Médico

A última seara de centeio

O moinho de vento

Vida De Santo Antao

A Lenda do Capote do Rei Mouro

As minas de cobre

Numa matança do Porco

Os Porcos do Vizinho

 

livro editado pelo Município de
Oliveira do Hospital

excertos:

apresentação do autor

agradecimentos

histórias

lendas

contos

 

imagens

'fotos da apresentação do livro
na Casa da Cultura
em Oliveira do Hospital'

 

"imagens de Chão Sobral
e música para a sessão
de apresentação do livro"

apresentação .pps

 

 

 

 

 

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 Edição de João Gonçalves

c h a o s o b r a l @ y a h o o . c o m

 

2003-08  |  c h a o s o b r a l . o r g

Sítio alojado em TugaNET.pt

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Apresentação do Autor

 

 

Da esquerda para a direita: Isabel, José, Eduarda, Conceição, Casimira e Ilda (Foto de Irene do Couto, 2007).

 

Sou um fruto da serra, que nasceu em Chão Sobral em 1934. Meus pais, Serafim Moreira e Ester da Conceição, deram-me o nome de José Ramiro e cinco irmãs. Mandaram-me à escola do Vale de Maceira, mas só até à 3ª classe… Cresci e vivi na minha terra até ao serviço militar que cumpri na Amadora e Carregueira, onde fiz a 4ª classe. Trabalhei na agricultura e Serviços Florestais vários anos, dois na indústria têxtil em Coimbra e quatro em Lisboa, como porteiro do Colégio de Clenardo, (onde tirei muito pó à biblioteca!)

 

Ingressei na Guarda Florestal, o meu sonho de menino, sendo colocado em Malhada Chã – Piódão, onde estive quinze anos. Aí contactei com Miguel Torga, que ia àquelas paragens às perdizes e se abrigava na minha casa de guarda-florestal.

 

 

Casei com Maria da Anunciação, tivemos três filhas e um filho, e pelos seus estudos pedi transferência para a Mata do Choupal em Coimbra. Nesta estive nove anos e aí apanhei a paixão por árvores ornamentais. Passei para a sede dos Florestais de Coimbra, estando na central telefónica até me aposentar. Nesse período, faleceu-me a esposa com 49 anos e já morava em casa própria no Vale das Flores. Neste local dei largas à minha paixão, pois plantei no jardim da urbanização 200 árvores e arbustos ornamentais de oitenta espécies! Faltava-me só escrever um livro, sonho que não tinha.

Na foto à direita: Serafim Moreira e José Ramiro

 

Angustiado com a falta da companheira e por um amor não correspondido, que guardava da juventude, comecei a escrever em versos histórias do meu Chão Sobral. Histórias que me encantavam por os locais e personagens me serem familiares. Este fascínio avivou-me a memória e criou-me o desejo de contar tudo. Os versos eram a maneira fácil de construir a história, mais que em prosa, mas a sua pobreza desgosta-me. Só me alegra deixar escrito tudo, o que sei e ouvi contar.

 

 

 

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Agradecimentos

 

Desejo expressar a minha gratidão aos que me contaram muito do que contém este livro;

 

Aos que me estimularam, apoiaram e corrigiram;

 

Aos que na rádio e imprensa divulgaram algumas histórias;

 

Em particular, aos que toleram factos aqui referidos que não tenha sabido purificar.

 

Para a edição deste livro cumpre-me agradecer:

À União Progressiva de Chão Sobral, na pessoa do seu Presidente, meu sobrinho João Pedro Gonçalves, que vinha mostrando na Internet o meu trabalho e agora se propôs pedir, e coordenar o texto, para ser editado;

 

A todas as pessoas que gentilmente cederam as fotografias;

 

À Junta de Freguesia de Aldeia das Dez na pessoa da sua Presidente, D. Paula Frade, Grande Mãe, até nas letras!

 

À Câmara Municipal de Oliveira do Hospital, da Presidência do Senhor Professor Mário Alves, o Amigo de Chão Sobral, e na pessoa do Senhor Vereador da Cultura, Professor José Carlos Mendes, nosso Bom Vizinho, que se dignaram mandar que se editasse este meu trabalho.

 

José Ramiro

 

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HISTÓRIAS
   

O Zabumba

Casais nossos vizinhos

Do Colcurinho para Lourosa

As primeiras batatas

Origem do nome Chão Sobral

Origem da casa deste lado - no Colcurinho

A grande sequeira

A capela de São Lourenço

Os Franceses e o Avelar

Teresa Moreira do Avelar

O Caca e o Caeiros

A ceifa

No Tribunal de Penalva

A Fé da gente da Vide

Milagre de São Sebastião - em Alvôco

O Coimeiro

O grande habilidoso

O primeiro fogo

O lençol de sinal

Primeiro papagaio de papel

Os Velhos do Colcurinho:

O caçador de lobos - I

O caçador de lobos -II

III - O bom lavrador

IV - O queijo fresco

V - A azeitona

VI - Os quadros

VII - E o vento

VIII - Quatro cinco talhadas

IX - As cigarrilhas

X - As armas dos Varões assinalados

O último Bufo Real

As cucas

Mentiras de mãe

O pau da Missa

O diabo feito cabra

Sete currais de cabras

Aquele diabo do Zé Trindade

A mulher que foi ao pipo

A greve das andorinhas

Ditos de Saber Antigo

A primeira obra pública

O pastor que fazia parar

O "Tafula"

Os cruzeiros partidos

Bruxas

As melancias

O crucifixo pelo chão

A Guerra do Carvoeiros:

I - Zé Moreira na cadeia

II - A nossa Maria da Fonte

III - Os figos

IV - O único tiro

V - Senhora das Preces, se escapar!

VI - O fim - E uma avaliação nova

Ladrão duas vezes inocente

A casa antiga do meu Chão

Dois rapazes em Lisboa

O santito

As "Almas"

A pneumónica

A licença do porco

Uma lição para sempre

O último lobo

O jogador do pau

Tradições do meu Chão:

Fogueiras de São João

A fogueira do Natal

Da nossa cozinha:

O bucho

Os coscoréis

Os últimos romeiros a pé

O primeiro automóvel

O último campo de linho

A floresta

O fardadito

O último rebanho

O bom Samaritano

Os Homens de quem se fala:

O Ti Zé Mendes Caetano

O Ti Manel Alves

O Ti Abel

O Ti Manel Fontes do Tapado

O Ti António Miguel

Como chamavam o gado

O último carvoeiro

A música do faz de conta

Minha primeira tiborna

Valores do traje antigo - o gabão

Jogos Tradicionais - a chona

Os últimos pobres de pedir

A última malha

Ouro!

A estrada:

I - Velhos caminhos

II - Meu povo em cordão

III - Primeiros carros

O lagar velho do meu Chão

Nomes de fragas

Os últimos moradores

Castas de Castanheiros

Museu do Colcurinho

A Escola

As Fontes

A Procissão

A nódoa em Vale de Maceira

Os Baldios

A Electricidade

Homenagem aos combatentes

Um sonho que é história

A Senhora Laura

Letra de cantares antigos

Uma parcela do meu Chão

O muro

No miradouro do Santo

A Via e a Regueifa

Inscrição HISTÓRIA e tradição

 

 

   

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histórias

 

ORIGEM DO NOME CHÃO SOBRAL

 

Primeiras Casas e Moradores

 

Vou falar de guerras velhas,

Dos Santos e do Diabo;

Mas nesta falo do homem

Que veio do Sobral Magro.

 

Morava no Colcurinho,

Cá, única povoação.

Perto num campo vizinho,

Tinha o homem um chão.

 

Ganha alcunha entretanto.

Ele não levava a mal!

Diziam que o seu campo

Era o chão do Sobral.

 

Minha terra ia nascer.

O homem faz lá juntinho

A casa para viver,

E deixou o Colcurinho.

 

Encostam outras a ela,

Todas iguais à primeira,

Com postigo e janela,

No lascado a trapeira. (1)

 

E loja, curral de gado.

Igual a casa do rico,

Com cabras, bois e criado!

Sete potes e um penico!

 

Tinha oito moradores,

Quando D. João III

Mandou recenseadores

Contar o país inteiro. (2)

 

No registo de então

Ficou Casa do Sobral,

Esta nova povoação, (3)

Entre o chão e o vale.

 

Com gente a aumentar,

No chão do Sobral, ao pé,

Fazem casas para morar,

E hoje, Chão Sobral é!

 

Foi concelho de Penalva. (4)

Isso não deu simpatia,

Por ser concelho de Avô,

A sede da freguesia. (5)

 

Não faz pessoas amadas

O pisar outros caminhos.

Mas essas águas passadas

Não fazem moer moinhos!...

 

 

(1) Lascado - cobertura da casa em lousa.

Trapeira - óculo numa lousa para dar luz à cozinha.

(2) A contagem foi em 1527.

(3) Era à ladeira do Porto.

(4) Concelho de Penalva do Alva, foi integrado em 1853 no de Sandomil, e em 1855 no de Oliveira do Hospital.

(5) A freguesia de Aldeia das Dez, criada em 1543.

 

 

histórias

 

 

 

 

histórias

 

MILAGRE DE SÃO SEBASTIÃO

 

Em Alvôco das Várzeas

 

Eram um jardim, em Alvôco,

As várzeas e os quintais!

Vem nuvem de gafanhotos (1)

E poisou nos milheirais!

 

Toca o sino a rebate,

Sai a população inteira.

Não ficou o alfaiate,

Nem ficou a tecedeira!

 

Sem os venenos de agora,

Vão com ramos a enxotar.

A praga não ia embora,

Só a faziam mudar.

 

Com o milho a ser roído,

E de ver ficar só veios,

O povo ficou perdido...

Já previa tempos feios.

 

E já em grande aflição,

Vem a esperança que resta:

Evocar São Sebastião,

E prometer-lhe uma festa.

 

Põem dois mastros de pinho

A apontar a sua esperança;

Em cada topo, um arquinho, (2)

A propor ao Céu aliança.

 

São Sebastião aceitou

O contrato, sem desafio.

Logo a praga levantou

E foi afogar-se no rio!

 

Ó milagre sem igual!

Já nem a água se via!

Também alegrou Chão Sobral,

E a festa, foi romaria.

 

 

(1) Em 1851 houve pragas no país.

(2) Com fitas de cores.

 

 

histórias

 

 

 

 

 

histórias

 

A CASA ANTIGA DO MEU CHÃO

 

Casa quadrada, em pedra,

Com pé direito baixinho.

O quarto canto redondo, (1)

A facilitar um caminho.

 

Duas águas no lascado;

Mas com empena suave.

Na frente, janela ao lado,

Fora do peso da trave.

 

Simples e curto beirado;

Umas pedras a calcar.

Dois craveiros à janela,

Dos lados a enfeitar.

 

Dos lados, num é a porta.

Cabem pessoas baixinhas.

É debaixo da escada

O poleiro das galinhas.

 

Sobre a porta com postigo, (2)

Lascado de cobertura.

Pesa quase meio quilo,

A chave da fechadura:

 

Porta da loja, ao canto.

Padieira de madeira.

Dentro, pipos e a arca,

A dorna e salgadeira.

 

Atrás, pátio e curral.

É o das cabras, por certo!

O canto de cheirar mal,

E o forno num coberto.

 

A loja com a quintã,

Não a convém destrancar.

Tem, com licença, o porco,

Pode ir pisar o linhar!

 

É casa de boa gente,

Ninguém se faça rogado.

O dono diz: Entre!...

E entramos no sobrado.

 

Duas paredes caiadas,

Uma tem uma copeira. (3)

Mas dois lados da sala,

São divisão em madeira.

 

E tem pintado em azul,

Num que dentro é caiado,

Um pote com alcachofras,

Quase a encher esse lado. (4)

 

É sem vidros a janela.

Portinhas tapam o vento.

De cada lado do vão,

Um poialzito de assento.

 

Uma mesa rectangular.

Cadeiras, uma pobreza.

O banco para se sentar,

Do comprimento da mesa.

 

No lavatório ao canto,

Jarro, toalha e bacia.

Forro, barrotes à vista.

No sótão, só velharia.

 

Portas a dar para a sala,

Dois quartitos apertados.

Só ao tamanho da cama,

Escuritos, mas forrados.

 

 Vamos entrar na cozinha!

A luz vem da trapeira. (5)

Cuidado com o degrau,

Que é funda, a lareira!

 

Ela não tem chaminé,

Está tudo defumado.

Ali, o canto da lenha,

Panelas, do outro lado.

 

A panela nas cadeias, (6)

Penduradas no caniço. (7)

Nele secam as castanhas,

Por baixo, o bom chouriço.

 

Enterrada na parede,

Uma panela de copeira.

Para meter os novelos,

Ao serão, a fiandeira.

 

Cântaro na cantareira.

Pratos para se comer.

Engonçada na parede,

Esta mesa de descer... (8)

 

Os sinais de casa farta

Vejam-nos nesta salinha.

São os potes e a arca,

E o cortiço da farinha.

 

Dentro da tampa da arca,

Os sinais das alegrias!

Toda colada de imagens,

Dos santos das romarias!

 

Fica para a outra vez,

Tudo mais que me recorda.

A candeia de azeite,

E o podão e a corda.

 

 

(1) Havia muitas assim.

(2) E o buraco do gato.

(3) Cavidade na parede a servir de prateleira.

(4) Vi na casa do Ti’ Albano e vestígios noutra.

(5) Óculo numa lousa.

(6) Cadeado de ferro.

(7) Um forro em ripas.

(8) Só com uma perna.

 

 

histórias

 

 

 

 

 

histórias

 

O SANTITO

 

Passava para o Parente,

A mandar fazer os tamancos,

Certo homem da Barroja, (1)

Que não era nada de Santos…

 

Se era ou não, tanto faz.

Passava é revoltado.

Lá com a festa do São Braz,

Ficava o milho esmagado.

 

Eram lá os diabretes,

Da miudagem que corria

Atrás das canas dos foguetes.

Então o homem dizia:

 

Eles esmagam o milho!

Eles partem botelhas! (2)

E não há lá um pai,

Que lhes puxe as orelhas!

 

Eu já disse, e digo agora:

Se Deus ou Diabo, não vê tal sarilho,

Se não tira o Santito de lá p’ra fora,

Não fica lá uma cana de milho!!

 

 

(1) Barroja – Pomares.

(2) Abóboras.

 

 

histórias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

histórias

 

O BOM SAMARITANO

 

Contado Por Minha Mãe

 

Minha mãe vinha de Aldeia,

E calhou a vir com ela

O Moreira do Avelar,

Que chamavam o Tadela.

 

Era um homem comprido,

Sem os dedos duma mão.

Falava um tré leté,

Mas tinha bom coração!

 

Às Almas da Lombardia

Gemia, ao lado delas,

Um pobre do Avelar,

De alcunha, padre Gamelas.

 

Deram com ele lá no chão,

Fraco, sem poder andar.

Mas disse ao seu vizinho,

Para não se incomodar.

 

Diz-lhe aí o Ti' Moreira,

Nas suas frases esquisitas:

Tó padre Gamelas!

Tu ati no fitas!...

 

Agarro-te tos tetunhos,

Te hei-de poder tontigo!

Levanta-o com um dos punhos,

Outro, dá amparo amigo. (1)

 

E traz o homem às costas,

Para o Avelar, seu destino.

Minha mãe chegou a casa,

Contou-o ao seu menino…

 

 

(1) A mão que não tinha dedos.

 

 

histórias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

histórias

 

A MÚSICA DO FAZ DE CONTA

 

A música do faz de conta,

Do meu tempo de miúdo,

Tinha cornetas e farda,

Tinha coreto e tudo!

 

Cornetas, eram videiras,

Lenha do forno do Porto.

Também um troço de couve,

Ou qualquer outro pau torto!

 

E as boinas do avesso,

Casaco, trás para a frente,

Bolsos das calças de fora,

Eram a farda de sempre!

 

O coreto era em cima

Do castanheiro da Ferrém.

Com mais pernadas à roda,

Que aquelas que hoje tem.

 

O que fazia de mestre,

No meio a esbracejar,

Uma vez caiu abaixo,

Foi ter à mãe a chorar!

 

Em cima do castanheiro,

Tocava eu, tocavas tu;

Um dizia, tachim tachim!

Outro só, tu-ru-ru!

 

Outro só, pó-pó-pó...

E tudo combinava bem!

Mas isto era ensaio,

Marchas, eram Porto além!

 

Até era elogiada,

Por quem ia no caminho:

Olha o que vai afinada!...

Diziam-nos com carinho. 

 

histórias

 

 

histórias

 

A ÚLTIMA MALHA

 

Estendem na Eira de Cima

O centeio num quadrado.

Os homens, com mangual,

São quatro de cada lado.

 

Começam por pouca força.

Chega a rijo e a valer!...

Levantam uns o mangual,

Já outros forte a bater!

 

E de vez em quando param,

Se estão muito cansados.

Vem vinho e coscoréis…

Limpam o pescoço suados.

 

Depois de todo malhado,

Separam palha do grão,

Com as forquilhas de pau.

A palha dá um montão!

 

Varrem grão as mulheres.

Crianças, ó que alegrias!

Atiram com palha ao ar,

No monte abrem galerias!

 

A minha irmãzita Isabel,

Tão feliz sai desta malha,

Que vai perguntar à mãe,

Se no Céu também há palha!!

 

Na mesa houve carneiro,

O pipo fez cherrubiiuu!

Pão-de-ló e tigelada.

Foi o céu que a Isabel viu!

 

E não será mal que conte,

Que os homens nesta malha,

Já falavam numa ponte,

Para a lomba da Carvalha!!

 

E em arrasar o Cabeço,

Para se ver a Gramaça!!...

São antigas utopias,

Mas não falavam por graça…

 

histórias

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

histórias

 

HOMENAGEM AOS COMBATENTES

 

Memorial

 

 

Manuel Silva

António Pereira

 

 

Já lembrei a minha gente,

Que sofreu pelo meu Chão,

Vou lembrar os combatentes,

Dois mortos pela Nação!

 

António Lourenço Pereira,

De uma bondade sem par!

Soldado morto em Angola,

Nas Guerras do Ultramar.

 

Outros foram mais felizes!

Cá voltaram ao destino.

Não sem trazer cicatrizes,

Como o José Patrocínio.

 

O jovem Manuel Silva,

Filho querido da terra.

Soldado morto em França,

Na I Grande Guerra.

 

O Ti’ Agostinho Miguel,

Que fugiu de lá ao brado:

Salve-se quem puder!

E veio a pé fardado!...

 

Se dos mortos em combate,

Se diz que são os maiores,

Destes dois o povo disse:

Deus leva-nos os melhores!

 

 

histórias

 

 

 

 

 

 

 

histórias

 

UM SONHO QUE É HISTÓRIA

 

Eu sonhei que fui ao céu,

E por lá ser sempre festa,

Os nossos que cá tocavam,

Tinham lá uma orquestra!

 

Vi lá a tocar a caixa,

Quem mais gostava de ver!

Meu avô José Moreira,

Que não cheguei a conhecer!

 

O Ti’ Serafim Alexandre,

E o velho Ti’ Zé Maria,

A tocarem nos armónios,

Era lá uma alegria!...

 

À guitarra e à viola,

O Ti’ Germano e o irmão;

E Ti’ Emídio com ferrinhos,

Todos com satisfação!

 

O Ti’ António Castanheira,

O ferreiro, ao que penso,

Que bem tocava rabeca,

Mais o Ti’ João Lourenço!!

 

O meu Ti’ Manel Moreira,

E o velho Ti’ Manel Dias,

Com pífaros de pastor,

Ai que belas melodias!!

 

Tocava feliz o bombo,

Meu Ti’ José Castanheira.

E punha garra no banjo,

O primo Manel Lameira!

 

Do Colcurinho, encantavam!

Com adufes e pandeiretas;

E os dois anjos da capela,

A tocarem nas cornetas!!

 

Ao lado o Santo Antão

Tocava na campainha!

O São Lourenço sorria,

Ou foi impressão minha!…

 

 

(1) A mão que não tinha dedos.

 

 

histórias

 

 

 

 

 

 

 

 

LENDAS

 

   

Eram sete irmãs iguais

Traziam a Santa para baixo

Passou a Nossa Senhora ...

Vem o nome Colcurinho

Olha os homens do Piódão!

 

Com luzes nos cornos

Oiro no cabeço do Colcurinho

Pegadas dos Moiros

O pocinho nas fragas do ribeiro

 

 

   

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CONTOS

 

   

O Diabo no Chão Sobral

A raposa e a laje

A raposa e o lobo

O grilo e o lobo

A raposa que falou

Uma raposa aos cachos

A raposa e o galo

O pisco e o medronho

A raposinha alteira

A raposa que se fez morta

 

   

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José Ramiro Moreira

Travessa da Carreira, 2

Chão Sobral

3400 - 260 Aldeia das Dez

Portugal

 

 

 

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A FESTA DE SANTO ANTÃO

 

A festa de Santo Antão,

No lugar do Colcurinho,

Era missa e leilão,

Quando eu era rapazinho.

 

Dos arredores acorriam,

Mulheres, homens não tanto,

De o porco chegar ao dia,

A trazer a língua ao Santo.

 

Mais um pé, uma chouriça,

Ou carne já amarela,

A meter pouca cobiça ...

Tudo, dava cestas dela!

 

E não ficava por vender,

Até cestas por inteiro.

Bastava lá aparecer,

Um certo homem grosseiro!...

 

Minha bisavó do Vale d'Água,

Era o único colorido:

Com traje sem mostrar mágoa,

E lenço branco florido!

 

 

 

A terra não tem roseiras,

No altar da capelinha,

Usavam pôr jabardeiras,

Com a baga vermelhinha.

 

Eu gostava de mirar,

Aquando destas visitas,

Os anjinhos do altar,

Com as suas cornetitas!!

 

 

                        

 

 

Nunca mais voltei a vê-la,

Outra coisa que lá via;

Os bacorinhos de cera,

Que via na sacristia.

 

Nós tocávamos o sino,

Usando um pau comprido.

Esse som belo e fino,

Ainda o tenho no ouvido!

 

 

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A CASA DA GENOVEVA

 

Estou "a ver" a capela,

Pequenina e caiada.

No Monte do Colcurinho,

Antes de ser alargada!

 

E ao lado as paredes,

Em boa conservação,

De uma casinha de xisto,

De andar e rés-do-chão.

 

Eram da casa da Genoveva,

Essa Mulher de talento,

Que ali em Vila Pouca,

Tinha feito o Convento.

 

Não contam como surgiu,

Nem se teve utilidade;

P'rá Genoveva terá tido,

Na sua espiritualidade...

 

Mas não resta uma pedra!

Não mereceu um carinho,

A casa da Genoveva,

No Monte do Colcurinho ...

 

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+ UMA "GALGA"

Do Ti'Manuel Fontes

 

O Ti'Manel Fontes do Tapado,

Falar dele é uma festa...

E eu, no livro já editado,

Não cheguei a contar esta:

 

Um crocodilo engoliu

Um preto, onde eu ia!

Eu com o sabre estripei-o!

Ai, isso é que o preto fugia!!

 

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OS ÚLTIMOS DINOSSAUROS

(a minha homenagem!)

 

Ainda os há no meu Chão,

E são mesmo de admirar!

Fazem das tripas coração,

De antes torcer que quebrar!

 

Seja vale, seja cabeço,

Destroem os matagais;

Viram as terras do avesso,

E vão atrás dos animais!

 

Se calha, comem uma cabra,

Se podem, matam um porco;

Mas esta raça acaba.

Este mundo que está torto ...

 

Eis a força e o retrato,

De alguns inconformados,

Sem poderem roçam mato,

Cultivam e têm gados!

   

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O CASTANHEIRO DA BOTICA

 

 

O castanheiro da Botica,

Vi-o morrer de velhinho;

Que esse local fica,

No Souto do Colcurinho.

 

Era um tronco de respeito,

Até ao nível da poda;

À altura do nosso peito,

Tinha doze metros à roda!!

 

Não sei se era LONGAL,

Se era casta JUDIA,

PORTELÃ ou VERDEAL,

VERMELHINHA ou CASTIA.

 

Quem lá contou estas castas,

Também afirma sem erros,

Que o Souto era lavrado,

A amansarem os bezerros.

 

 

 

   

O ancestral Castanheiro da Botica no Colcurinho

 

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HOMENAGEM AOS CASTANHEIROS

 

Aos Nobres do Colcurinho

De mui alta linhagem

Presta este seu vizinho

Mui honrada homenagem

 

 

 

No seu mui largo Senhorio

Terras expostas a norte

E pelo vale sombrio

Souberam só dar-nos sorte!

 

Nessas mui largas terras

Eram livres as cabradas;

De mui fartos em castanhas

Davam-nas às sacadas!!

 

 

 

 

Davam-nas todas e a rir!

Sem discriminarem ninguém.

E todos à sua sombra

Se sentiam muito bem ...

 

Pelos mui altos serviços

Que nos têm prestado,

Nestes larguíssimos anos,

Um mui grande obrigado:

 

 

 

 

Ao Senhor D. Portelão,

Mui bem barrigudo,

E à mui formosa D. Vermelhinha

Mui anafada em tudo ...

 

Ao Senhor D. Longal,

Com mui grande chapéu

E à mui honrada Dona Judia

Dona com mui fino véu!

 

Ao Senhor D. Verdeal,

Que tem cá cada braço!

E à mui bondosa Dona Castia,

Dona com farto regaço!

 

 

 

 

Vivam os nossos Nobres!!

E viva eu!

Viva o Soito do Colcurinho!

Que bem castanhas nos deu!

 

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UM ENTERRO PARA ALDEIA

 

Imaginei o meu enterro,

À moda de antigamente,

Para o cemitério velho, (1)

Que é o de toda a gente.

 

Vou deitado no Esquife,

Embrulhado num lençol,

Levam-me quatro homens,

Nenhum dá parte de mole.

 

As minhas filhas vão lindas!

É só crepes e veludos ...

Não param é de chorar.

Filho e genros vão mudos.

 

As minhas irmãs de preto,

Não se calam um bocado!

Meus cunhados, como sempre,

Juntaram-se a meu lado.

 

Em grupo, as minhas netas

Vão a chorar o avô,

Embrulhadas nas capuchas,

Recato que se usou.

 

 

 

 

O Estêvão, meu netito,

Vai no grupo muito sério,

Leva lá um passarito,

P'ra soltar no cemitério!

 

Também as minhas vizinhas,

Vão com muito sentimento,

Embrulhadas nas capinhas,

Do dia do casamento.

 

Os homens levam na mão,

Até eu ser sepultado,

O chapéu de aba larga,

Na outra o pau ferrado.

 

 

O caminho no Poisadoiro.

 

Levo um lindo enterro,

Toda a gente muito séria,

Só o caminho antigo,

É que é uma miséria!! (2)

 

 

 

(1) Junto à Igreja Matriz de Aldeia das Dez.

(2) De Chão Sobral a Aldeia das Dez, pelo Fundo do Outeiro, Poisadoiro, Portos, passando pela Safra e o Avelar - um caminho tortuoso, íngreme e infestado de pedras soltas...

 

 

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QUANDO NEVAVA NO AVELAR

 

Em tempos nevava muito!

Por vezes um caso sério.

Foi assim no Avelar,

Que não tinha cemitério.

 

Morreu lá uma pessoa.

De lá iam para Avô.

Esperaram oito dias,

Só que a neve não deixou...

 

Afastaram lá a neve,

Fizeram a sepultura,

E enterraram lá o morto,

Numa terra de cultura.

 

Tudo branco tantos dias,

Imagino no meu Chão;

As pessoas à lareira,

Embrulhadas no gabão ...

 

As castanhas e o leite

De almoço e jantar ...

O pior eram as cabras,

Que se matavam a marrar!

 

A aguardente e o mel

Eram o anjo da guarda.

P'ra não morrer nesses dias,

"Sanapismos de mostarda"!

 

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OS VELHOS DO COLCURINHO

 

 

A falarem dos seus dotes:

Estamos velhotes,

Estamos fartotes,

Estamos acabadotes!

 

Se o criado  demorava,

Na propriedade vizinha:

Ora chaporra chaporrinha,

O moço foi p'rá Cavadinha!

 

Davam lá aguardente,

Mas atentos à boca ...

Quer pouca, dá-se-lhe muita!

Quer muita, dá-se-lhe pouca...

 

Se ouviam tocar o sino,

Tentação dos rapazitos:

Ó Ana! Conhece-me lá,

Esse sacristãozito!!

 

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O PREGÃO DO HOMEM DO SARRO

 

Parece que estou a vê-lo,

O homem alto da Feira,

Ali de saco ao ombro,

Pela Rua da Carreira!...

 

Apregoava assim,

Num passo já zangarelho:

Quem tem sarro, cera ou cobre,

Cornecho, ou peis de coelho??!!

 

Vinha comprar o cornecho,

Fungo que o centeio dava;

Comprava o sarro dos pipos,

E o mais que apregoava.

 

Também foi ao Colcurinho,

E começou Ao Cortelho:

Quem tem sarro, cera ou cobre,

Cornecho ou peis de coelho??!!

 

Comprou lá uma caldeira,

De cobre, toda amolada,

E voltou ao Chão Sobral,

Porque lá não comeu nada ...

 

Com a caldeira às costas,

Mas já coixo dum joelho:

Quem tem sarro, cera ou cobre,

Cornecho ou peis de coelho??!!

 

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A ÚLTIMA SEARA DE CENTEIO

no Monte do Colcurinho

 

 

Foi a última seara,

A do Guarda-florestal,

Junto às Malhadas Pouças

Na encosta do Carvalhal.

 

O centeio até foi

Malhado lá num assento.

Que puseram bosta de boi

no chão, como cimento!

 

Os que a levaram contam (1)

Com vernáculo pelo meio:

O Guarda mandou-nos à merda,

E a gente veio!!

 

 

 

 

(1) Os irmãos Agostinho e Armando Gonçalves.

 

 

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O FUMEIRO

Visto pela Senhora Laura (1)

 

 

Que lindo fumeiro,

Ai tanta chouriça!!

Senhora Isabel,

Ele mete cobiça!...

 

Ai tantas de carne,

Tanta farinheira!!

Que grosso palaio,

Que grande cagueira! (2)

 

Que grandes chouriços

Tem ali no meio!

Tem bem que levar

Se for a passeio! ...

 

Tem que por na mesa

Quando trouxer gente!

Tem com que se valha

P'ra dar um presente ...

 

E tem as de sangue,

Ai, tanta morcela!

Estas já estão boas,

P'ra por na panela ...

 

Tem cá um fumeiro

Que se pode ver!

Deus lhe dê é saúde

P'ras comer!

 

 

(1) Velhinha rica em elogios.

(2) "Palaio" e "cagueira": peças típicas anormais feitas com o intestino grosso.

 

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O POÇO DA SAÚDE AO CIRCO

 

Há um pocito Ao Circo,

Que por troça ou por virtude,

Os antigos lhe chamavam,

O Poço da Saúde.

 

É um poço com história,

De atributos especiais.

Vinham de lá os bebés,

No tempo dos nossos pais! ...

 

Por não ser água corrente,

Não tem lá uso  algum.

Mais abaixo o nascente,

Mata a sede, como nenhum!

 

Assim o velho pocinho,

Além do nome tentador,

Tem um nascente vizinho, (1)

Que lhe garante valor.

 

Feito este meu alerta,

Falta o dono pensar:

Pôr a correr lá a água,

E mandá-la analisar ...

 

 

 

(1) O nascente vizinho é o da Barroca Torgal.

 

Os antigos garantiam ter qualidade superior.

Fica o desafio ao dono de a vir a comercializar.

 

 

 

 

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A PILHEIRA DA COZINHA

 

O que chamam a PILHEIRA,

É a pedra na cozinha,

Que por cima da fogueira,

Tem posição de mesinha.

 

Quando faziam a ceia,

Quando já pouco se via,

Punham nela a candeia,

Também a almotolia.

 

As botas a enxugar,

E mais coisas a granel.

E começou como altar,

Dos Judeus no Rio de Mel!

 

Era o "lugar" do marido,

Pela mulher dominado...

Dizia o povo atrevido:

Já o tem empilheirado!

 

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VERSOS QUE OS CEGOS CANTAVAM

 

Na II Grande Guerra,

Da feira de Oliveira,

Meu pai trouxe uns folhetos,

Com versos desta maneira:

 

"A América tão poderosa,

Está-se a preparar para a guerra!

Está mandando aviões e canhões,

P'rá Inglaterra!"

 

"A Inglaterra,

Ainda não vai desta vez!

Tem muito homem valente e inteligente,

Que podem com três!..."

 

"A França  coitadinha,

Lá vai seguindo o seu fado!

Tem lá só um bocadinho,  

Bem pequenino, não ocupado!..."

 

"Portugal tão pequenino,

Por todos tem agasalho!

Lá diz a nossa bandeira,

Ainda tem Paz e Trabalho!"

 

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A MULHER DA PRAGA

 

O nome não interessa.

É um caso de dinheiro.

Era a primeira remessa,

Que mandava o "brasileiro".

 

Foi ela a Oliveira.

Lá, deram-lho em moeda;

A pé, foi uma canseira,

Pesava como uma pedra!

 

Três horas por aí aquém,

À cabeça, e tão pesado...

Cá, atirou com desdém

O saco para o sobrado.

 

Disse uma praga qualquer,

E talvez outras primeiro...

Mas para essa mulher

Nunca mais veio dinheiro!..

 

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OS ALUNOS DO PADRE NOGUEIRA


Aí vão de arma ao ombro,

Em fileiras a marchar,

Os alunos do Piódão,

Que andam lá a estudar!


Não levam armas de guerra,

São só de pau e de lata.

São Os Lobos da Serra,

Mas alcateia pacata!


Olhem o Padre Nogueira,

Que os leva tão atentos!

Estamos em Vale de Maceira,

No ano mil e novecentos.


Estamos na romaria,
Tudo olha com encanto:
Que linda infantaria!
E ele, dizem que é santo! ...


Neste padre e professor,

A fama de santidade

Vem de, quando pregador,

Falar com autoridade!


Sobre Jesus na Hóstia,

-Conheci quem lhe ouviu:

Quem não crê, fale comigo.

Eu digo-lhe quem já 0 lá viu!


É este, o do Colégio,

No tal Piódão isolado,

Até ali, privilégio,

Em Coimbra instalado!


Que há quinze anos é,

-Vinte foi a duração,

Centro de estudos e de Fé,

De jovens da região!


Foi o liceu de uns duzentos!

E não só da Beira Serra.

Hoje alguns têm monumentos,

Ou estátua, na sua terra!! ...
 

 

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O PRIMEIRO "CASTANHEIRA"

no Chão Sobral

 e filhos e netos


Eu sou José Ramiro,

Meu pai Serafim Moreira;

Mas o pai da minha avó,

Era António Castanheira.


Que veio do Sobral Magro,

Casar com Josefa Dias,

Quando vinha vender brochas,

E certas quinquilharias.


Tiveram quatro rapazes,

Mas raparigas duas só.

Todos iam a"Castanheira",

Menos essa minha avó.


Era só Bela da Piedade,
E casou com José Moreira:
Tiveram oito filhos,
E ela era tecedeira.


Águeda e Maria Trindade,

Rita, Prazeres e Emília,

Manuel, Serafim e Emídio,

Foram a sua família.


O António Castanheira,

(O ferreiro irmão dela),

Casou com Águeda Maria,

Foram pais da Tia Bela,

 

Da Adelaide e da Maria,

Que casaram na Gramaça;

- Ele que tocava rabeca,

E que tinha muita graça.

 

Já o José Castanheira,

Homem da Tia Piedade,

Esse, tocava bombo

Nos tempos da mocidade.

 

Tiveram a Eduarda,

O José e o Agostinho,

Também a Rita Clara,

E o Manel do Carvalhinho.

 

A Maria Castanheira,

Que no nome foi feliz,

Casou no Casal Cimeiro,

Com o Ti' João Luís.

 

Tiveram a Eduarda,

A Germana, o João,

Um que foi para Arganil,

E os que me escaparão ...

 

O Francisco Castanheira,

(O do filho na Argentina),

Casou com Ana Brísida,

Filhas, foi a Carolina,

 

Mais a Maria dos Anjos,

- Um nome que acho lindo,

Que casou no Goulinho,

Com o homem do cachimbo!

 

O Manuel Castanheira,

(Último irmão que havia)

A mulher com quem casou

Era Joaquina Maria.

 

Tiveram quatro Joaquinas,

Danadas para trabalhar!

Ele que fez um relógio

E as rodas do lagar!

 

Castanheiras hoje em dia,

São cá poucos mas são bons!

No trabalho e na alegria,

Mantêm os mesmos dons! ...

 

 

Fontes:

Tia Gracinda Castanheira de 90 anos e outras.
 

 

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OS MEUS AVÓS MATERNOS

Curiosidades e Dramas

 

Minha mãe era Ester

Tinha vindo da Tapada.

Já vinha cá vender figos

Quando moça criada.

 

O pai dela era André,

Tinha lá habitação.

A mãe foi do Vale d'Água,

Era Maria da Conceição.

 

Filha de Maria Isabel

Que veio da Gramaça;

E do Luís Marques,

Vítima de uma desgraça:

 

No tempo da azeitona,

No Vale d'Água a ela,

Cai numa oliveira,

Ficou enforcado nela!

 

Tinha tido um filho

Que quando adolescente

Tinha morrido afogado

No açude do Parente.

 

A filha, a minha avó,

Com a família criada

Calhou de ir a Coimbra,

Morreu lá atropelada ...

 

Era meu avô André

Tamanqueiro de primeira

E super habilidoso! ...

A mãe era tecedeira.

 

Era Ana Maria André,

Tinha vindo de Alvôco.

O pai António Guilherme,

Já à morte, pediu pouco:

 

Pediu o meio-alqueire,

Para pôr de travesseiro!

E deitado no sobrado

Deu suspiro o derradeiro ...

 

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A DISCUTIR POLÍTICA

1948

 

Quando o Norton de Matos

Concorreu às eleições,

Entre ele e Salazar,

Estremaram-se opções.

 

Até um homem de Alvôco

E um homem do meu Chão,

Com outro do Avelar,

Entraram em discussão.

 

Vinham a pé de Oliveira, (1)

Juntou-se o Ti' Adelino,

Que vivia no Vale d'Água.

As tais coisas do Destino!

 

Um dizia: Norton de Matos! ...

Só o mato dá fartura!!

- Queria dizer o "estrume",

No terreno de cultura.

 

Um outro acalorado:

Oliveira Salazar! ...

Oliveira dá azeite!

Nele é que vou botar!

 

Lá se vê - diz o terceiro,

As oliveiras da Tapada,

Onde já cresceu o mato,

Passaram a não dar nada!

 

Juntou-se o Pica Burros,

Também o Vida Direita, (2)

Lá das bandas do Parceiro,

Que riam de tal maleita ...

 

O Ti' Adelino ouvia

E mostrava confusão ...

- Mas crente que a Gramática

Daria a explicação,

 

Estacou no meio deles

E diz com voz cismática:

Inda é um caso

P'ra irmos ver à Prumática!!

 

 

(1) Em viagem a pé de Oliveira do Hospital

para os lados de Chão Sobral.

(2) Alcunhas de duas personagens da região.

 

 

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VALORES DO COLCURINHO

(Mais Gastronómicos)

 

Montes, ares, paisagens,

Vales, silêncio profundo!

Estradas, ventos, pastagens.

E a melhor água do mundo.

 

Castanheiros seculares,

Que dão sombra e castanha;

A que engorda o javali,

Que já é quem mais apanha!

 

Pão escuro de centeio.

O pão nosso desta Serra.

O que já valeu ouro

No tempo feio da guerra.

 

Cabradas de antigamente,

Belo cabrito assado!

"Somos burros minha gente

Se não voltamos ao gado!"

 

Queijo fresco, só de cabra,

Servido com mel a gosto:

É o único que causa

Um sorrisinho no rosto ...

 

Bacalhau à Lagar Velho,

Com muito azeite novo!

A acabar numa tocata,

No seu regresso ao povo!

 

Aguardente de medronho,

É boa e sabe bem!

Sendo "só dez reis dela"

Nunca faz mal a ninguém!

 

Carolos com leite e mel.

- Arroz doce do Chão Novo!

O melhor que é a pele,

Deste recurso do povo.

 

Chanfana do Santo Antão,

Temperada em alguidares:

À moda da tradição

Supera a de Poiares!!

 

Queijo de cabra, curado,

"O que se deixa comer!"

Por tão raro no mercado,

Só precisa aparecer!

 

Mel da urze, das Uchas,

Deitado na bola quente,

São migas "que fazem peito"

Com vinho ou aguardente.

 

O bucho, o tal manjar,

O que as gentes de perto,

Até usavam levar

Ao Santo Antão no deserto!

 

Leito coalhado com mel,

Foi recurso, e foi usado!

Em Espanha é de hotel,

Cá, já é ignorado! ...

 

Coscoreis amarelinhos,

Os amassados com ovos.

São bolos do Colcurinho

Já comuns a outros povos.

 

O "Doutor" Champorrião,

O hidromel dos Romanos;

Que cura a constipação

E faz viver muitos anos!

 

O sino do Colcurinho,

Última voz que lá resta:

Que chama o Chão Sobral,

P'ra lhe ir fazer a festa!

 

A Festa do Santo Antão,

Com febras e feijoada,

Bombos, missa e leilão,

Fogueira e desgarrada!!

 

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O "CHAPELEIRO" ESPANHOL

 


É a história do espanhol,

Que noutro tempo cá vinha,

Consertar chapéus de chuva,

Louça e trens de cozinha.


Os Silvas davam-lhe a ceia.

E uma vez quis ajudar

Numa malha de milho,

Mas só lá foi ter azar!

 

Desatou-se um mangual

E bateu-lhe na cabeça ...

O homem até viu estrelas

Ou coisa que se pareça!

 

E que grande "perpolhão"!! (1)

Acodem p'ra lho curar.

Mas ele lá com a mão:

Não me "pidas" p'rá tirar!

 

Voltou cá, com um rapaz

Que trazia a aprender.

Ali à Casa dos Bois,

Vinha-lhe assim a dizer:

 

Se te derem bolos de cevada,

Come, que pão é!

Mas se vires um pau que esguicha d'outro,

Foge, se estiveres ao pé!!

 

 

(1) Perpolhão: hematoma.

 

 


 

 

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JOSÉ ALVES CAPELA E SILVA

Um Filho do Chão Sobral

 

José Alves Capela e Silva,

É o primeiro cidadão,

Que também escreveu livros,

E que nasceu no meu Chão,

 

Nasceu ali À Quintã,

Nos fins do século dezanove,

Na casa da senhora Laura,

Que já não era casa pobre...

 

Foram pais deste autor,

De uma prosa muito bela,

Maria Alves da Silva,

E José Luís da Capela.

 

Ele, Regente Agrícola,

Que viera do Goulinho,

Ela, era sobrinha,

Dos Velhos do Colcurinho.

 

Tirou o curso do pai,

E exerceu no Alentejo;

Dá-lo mais a conhecer,

Era meu grande desejo...

 

Fez o livro GANHARIAS,

E mais livros importantes,

Todos sobre o Alentejo,

Dos seus tempos já distantes.

 

E tem no "Museu do Traje"

Outras provas de cultura:

Figuras do Alentejo,

Com a sua assinatura!

 

Eu não sei se lá por Eivas,

Lhe mantêm a memória;

Eu aqui na sua terra

Registo a sua história!

 

(1) Museu Etnográfico de Lisboa (?).

 


 

 

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CAVACAS DE ALDEIA

(Bolos Regionais)

 

Cavacas de Aldeia

Cobertas de "neve",

A estalar na boca

Mesmo ao deleve...

 

Mesmo ao deleve,

Matei a saudade,

Lá longe, lá longe,

Na grande cidade.

 

Na grande cidade

Onde eu estava,

Sabiam a beijos,

De quem as mandava

 

De quem as mandava,

P'rá mesa da boda,

Eram "rosas" brancas,

Pela mesa toda!

 

Pela mesa toda,

Em decoração,

Cavacas de Aldeia

Feitas no meu Chão.

 

 

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O PRIMEIRO MÉDICO

 

Dr. António Fonseca Gouveia

Foto gentilmente cedida por Fátima Gouveia

 

 

Tinha nascido na Obra,

Era António Gouveia;

Foi aluno no Piódão, (1)

Com Saúde na ideia...

 

Foi médico em Alvôco

De medicina geral,

O primeiro a tratar,

Doentes no Chão Sobral!

 

Meteu-se na política,

Talvez o seu pecado:

Era a Primeira República,

Acabou assassinado!...

 

Morava em Alvôco,

Vinham amigos de fora,

Jogar com ele as cartas,

E jogar a sua hora...

 

Tinha a arma carregada,

À vista daquela gente:

- Por eles, a ser mirada...

Mataram o inocente!

 

Mas foi geral a ideia,

- Por intuição crítica,

Que o doutor Gouveia,

Foi morto pela política!

 

O grau do seu coração,

Viu-se num dos criados, (2)

Que chorava o patrão,

Já muitos anos passados!!

 

(l) Confirmado na lista de “A Comarca de Arganil”.

(2) O pai de Vasco dos Santos Almeida,

de Casas Figueiras.

 

 

 

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UMA PRIMEIRA ROMARIA QUE VI

NA SENHORA DAS PRECES

(Quando era rapazito)

 

Com cabazes à cabeça,

Mulheres e raparigas,

Vinham juntas a cantar

Os seus versos e cantigas.

 

Virgem  Senhora das Preces,

À Vossa porta cheguei,

Tantos anjos me acompanhem

Como de passadas dei! ...

 

Com chapéus d’aba larga,

Ou boinas espanholas,

Os homens faziam festa,

Com harmónios e violas!

 

Virgem Senhora das Preces,

Pequenina e airosa,

Vem a gente de tão longe

Para ver tão linda Rosa!

 

Veio um grupo de bombos,

De bem longe do concelho,

E à porta da capela,

Vi-os dobrar o joelho…

 

E vieram autocarros

Até já faziam fila!

Tocados a gasogénio,

Tinham atrás uma “mochila”.

 

Num ouvi: Avé, Maria

No Céu na Terra!

No vale da serra!

Avé, Maria!

 

De camisa até aos pés

Foi como uma romeira

Veio trazer a mortalha,

Que teve à cabeceira!!

 

E vieram de Cebola. (1)

- Muita genta nesse ano!

O TZé Padre e o Ti Alfreido,

Falavam açoriano…

 

A Tiá Mulher e a Pariga, (2)

Traziam notas aos centos!...

“A minha mõe disse,

P’ra gastar até quinhontos!”

 

Essa gente de Cebola,

Isenta de interesses,

Trouxe um Pálio novo

À Senhora das Preces!

  

O Presépio Movimentado,

- Figuras e engrenagem,

Veio, foi admirado,

Não só pela miudagem!

 

As barracas e as tascas,

Eram de paus e de ramos;

Toldos e tábuas com casca,

Tal como outros anos.

 

Tinham um pipo do vinho,

Num carro de bois, parado,

E um pobre rapazinho,

Estava nele montado…

 

Numa tasca mais acima,

Eu e outro rapazito,

Bebemos uma gasosa,

Que chamavam “pirolito”.

 

Os CAVALINHOS corriam!

Era o carrossel à mão.

Quem desse à manivela,

Andava nele um tempão!...

 

Era a Festa de ontem

A ganhar nova vida:

Montem meninos, montem!

Outra viagem, outra corrida!!

 

A cigana lia a sina,

A minha ficou por ler!

Como acaba em verso

Não é para entender ...

 

Um romeiro na capela,

Talvez por uma cura,

Tinha na mão uma vela

Que tinha a sua altura!

 

A Missa foi cantada

Pela Música no coro.

E a toalha do altar

Era bordada a ouro!

 

Dois padres e o da terra.

Um foi o pregador;

Com o Mundo em guerra,

Falou desse horror!...

 

Foi bonita a procissão.

Iam os homens à frente,

E com eles o Guião,

Nas “unhas” de um valente!

 

Seguia a Irmandade,

O Estandarte e a Cruz,

Pendão, e Associadas

Do Coração de Jesus.

 

Os meninos da Cruzada.

Todos com a Cruz de Cristo:

Nela, eu de dez anos,

Sem pensar, “filmava” isto!

 

Os anjinhos iam lindos!

Um, era a minha irmã.

E um voou para o céu,

Que era o colo da mamã…

 

Iam ao Pálio novo,

Alfaia de seu encanto,

Os homens bons de Cebola,

Com um tal José Branco.

 

Nossa Senhora das Preces,

No seu andor enfeitado,

Era o centro dos olhares,

Vindos de todo o lado!!

 

A música tocava bem!

E a passo bem marcado.

À frente o director,

Com razão, ia inchado…

 

Debaixo duma carvalha,

Desocupou-se um cabaz…

Onde o pai disse à filha:

- Se queres, chama o rapaz!

 

Uns a "atacar" chouriços,

Queijos e bolos da Festa,

Garrafões e carne assada,

Outros a cantar mais esta:

 

Senhora da Lapa se queixa

Que anda o mundo às avessas

Que lhe fogem os romeiros

Para a Senhoras das Pressas! 

 

As barracas dos brinquedos,

Eram as mil maravilhas!!

Uns de pau, outros de lata,

Ou bonecos de casquilha.

 

Num local a descoberto,

À roda de uma mesinha,

Um grupo de chicos espertos,

Jogava a Vermelhinha.

  

Pela banca dos ourives

O negócio ia bem:

Mais uns brincos, mais um fio,

Que “fulana” também tem!

 

Certo homem com um burro,

No meio da multidão,

Iam dizendo a todos:

“Deixem passar o vosso irmão!”

 

A Música no Coreto

Era muito aplaudida;

Até vivas de alguns,

A cheirarem à bebida!

 

Armou-se uma desordem,

Por culpa de um caturra:

Não quis chegar-se a trás,

Para trás, que mija a burra!

 

Onde vendia o vinho

Há muito havia festa

Mesmo vinho baptizado

Pôs lá um a cantar esta:

 

Fui militar em Coimbra,

Fiz a guerra do Buçaco,

Deram-me um tiro no cu

'Inda cá tenho um buraco!!

 

Na banca da doçaria,

Foi amêndoas para nós,

A “rofada” para a tia,

Bolo doce p’rós avós…

 

A romaria encanta!

Mas acaba-se o farnel…

Nos chapéus já vai a Santa,

Faltam os cravos de papel!

 

Nos cravos para os chapéus,

Toda a exposição agrada;

Um, porque mais bonito,

Outro, com a melhor quadra…

 

Com os chapéus enfeitados,

Uns de carro, outros a pé,

Voltaram às suas terras,

Alguns a cantar, com fé:

 

Virgem Senhora das Preces,

Minha Mãe, minha Madrinha!

Eu já vim, à Vossa casa!!

Vinde Vós agora à minha!!!

 

 

(1) Hoje São Jorge da Beira,

terra do minério que deu fortuna na época (1944).

(2) Era a linguagem que se ouvia,

a chamar as mulheres e raparigas.

   

 

 

 

 

 

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O MOINHO DE VENTO

 

 

 

 

Quando na Mendacha

Os do Goulinho,

Crentes no bom vento,

Faziam o moinho:

 

Fez um rapazito,

Do Casal Cimeiro,

Um em miniatura,

Ainda primeiro!

 

E tinha as velas,

onde dava o vento.

E tinha a mó

A girar lá dentro!

 

E sei que a mãe

do moço artesão,

Maria Castanheira,

Foi do meu Chão!...

 

 

À esquerda o cimo do Goulinho à direita o Casal Cimeiro.

 

 

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Vida De Santo Antão

 

Nasceu o Santo Antão

No Egipto, em Fayum,

Cerca do ano duzentos

E cinquenta e um.

 

Tinha só uns vinte anos,

Morreram-lhe os seus pais.

Pôs a irmã a educar,

Por ser novinha demais.

 

Bom cristão e jovem rico,

Com outros dons pelo meio,

A HISTÓRIA DO JOVEM RICO

Atingia-o em cheio...

 

Tanto, que dá aos vizinhos

Terras dos antepassados.

Vende os bens, e o dinheiro

Dá-o aos necessitados!

 

Vai p'ra local isolado,

Não longe de povoações.

Sofreu coisas do Diabo...

E tentadoras visões!

 

Apaixonado por Deus,

Vai então para o Deserto.

A pedir conselhos seus

Vão lá de longe e de perto!

 

Chegavam a ser milhares,

E com roupa e comida.

Até o bispo Atanásio

Que escreveu a sua vida.

 

O imperador Constantino

Foi um desses romeiros!

E vinham de lá mudados.

Também teve companheiros.

 

Mestre sobre tentações,

Via nelas um valor.

Sobre a ternura de Deus

Era ele conhecedor!

 

Que ia ver a irmã.

E foi a Alexandria

Consolar uns mártires.

E até esteiras tecia!

 

Foi ver Paulo de Tebas,

Outro santo ermitão

A quem os corvos levavam,

Por dia, um meio-pão!

 

Mas os corvos esse dia,

Tinha lá o companheiro,

Segundo a tradição,

Levaram o pão inteiro!!

 

Corajoso de bom-senso,

Alma límpida e leal,

Consolador de aflitos,

O mestre espiritual.

 

Morreu no monte Kalzim,

Em dezassete de Janeiro.

Aí, Macário e Amafas,

Sepultaram o companheiro.

 

Era o ano trezentos

- E cinquenta e seis.

Com cento e cinco anos,

E Santo, como sabeis!

 

Desse local e seus restos,

É que pouco se sabia!

Mas depois de encontrados,

Foram para Alexandria.

 

Mais tarde com o Islão

Vieram por segurança

Para o São Juliano,

Perto de Arles na França.

 

Santo Antão meu vizinho,

Por escolha dos antigos,

Abençoai o Colcurinho,

E estes vossos amigos!

 

 

Fontes:

Sermão na Festa na aldeia do Colcurinho.

Páginas Internet / resumo de 14 páginas de textos de várias versões, adaptadas em versos. (versão livre).

 

 

 

 

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ENCONTRARÃO NO CABEÇO
NA ALTA FRAGA DO OURO (l)
DETRÁS DE SETE PORTAS
O CAPOTE DO REI MOURO

como vejo A LENDA do capote

O rei mouro é o vento.
O capote, a energia!
As portas são os séculos: (2)
Vejo perto o seu dia!...

Vai ser encontrado,
Pelas ventoinhas (3)
O capote de trinta fios,
Com botões e sem bainhas!!

(l)A fraga do Ouro ou da Cerca.
(2)7 séculos depois dos mouros.
(3)Do prometido parque eólico.

 

 

 

 

 

 

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AS MINAS DE COBRE
do Monte do Colcurinho

Há do lado da Gramaça,
No monte, um sítio morto,
Que pelo que lá se vê,
Lhe chamam, Covas do Porto!

O que se vê, são crateras,
De minas a céu aberto,
Que gente de outras eras,
Lá fez, naquele deserto!...

São nas Portas do Inferno,
Mais ao nível da estrada;
E nelas que há um poço,
Ou chaminé mal tapada...(l)

São as minas de cobre,
Que certo autor moderno, (2)
"Diz ter havido ali",
Nas Portas do Inferno!...

Talvez obra dos romanos,
No monte do Colcurinho,
Que o mesmo autor supõe,
Que davam muito pouquinho!

(l) Que meteram um cão lá num buraco,
Saiu noutro lá muito abaixo.
Quando da estrada,
meteram lá uma barra de ferro, ouviam-na a cair.

(2) Diamantino Antunes do Amaral in DIZEM VELHOS MANUSCRITOS-1969.

 

 

 

 

 

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NUMA MATANÇA DO PORCO

Contam esta no meu Chão:
Num lugar quase vizinho,
Numa matança do porco,
Foi só homens "sem caminho"!

Nem viram fugir o porco,
Quando o iam prender!...
Mas aguardente com mel,
Souberam eles beber!...

Procuravam-no com a mão,
- No escuro do curral.
O dono cai no chão.
Um lá deu co'animal...

O da corda põe-lhe o laço,
- Mas focinho, achou pouco...
Dá o dono em gritar:
"Larguem-me, não sou o porco!!"
 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 


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OS PORCOS DO VIZINHO

O meu amigo dizia:
Uns porcos no Silvadal,
Depois de virar a pia,
Saíram-se do curral!

Os porcos iam farruscos,
De fuçarem por ali.
Sai um homem com a arma,
E matou um javali!...

Outro javali ao lado,
Levou o mesmo caminho.
Depois de bem informado,
Eram os porcos do vizinho!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

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VIDA DE SÃO LOURENÇO

 

Era o ano duzentos

E cinquenta e oito.

Em Roma, nenhum cristão,

Já se sentia afoito...

 

Mais uma perseguição,

A Igreja de Jesus Cristo:

0 primeiro na prisão,

Foi o bom papa Sixto.

 

Lourenço, seu diácono,

Consegue ir visitá-lo,

E falou-lhe deste modo,

Certo que iam matá-lo:

 

"Na oferta do sacrifício,

De Jesus morto por nós,

Que fazíeis na missa,

Eu estava junto de vós!"

 

"Só no vosso sacrifício,

Se vos derem a morte

Que ireis oferecer,

Não tenho, igual sorte!"

 

"Lourenço amigo:

Julgam que temos riqueza

E sabem que é contigo,

Conta sofrer, de certeza!"

 

Não tardou ser intimado,

A levar ao imperador,

Os tesouros da Igreja,

Que supunham de valor.

 

Lourenço vai ao Suburra,

Um bairro de muitos pobres,

Dar-lhe o que tem em caixa,

Até aos últimos cobres.

 

 

O cálice Santo Graal,

-O da ceia do Senhor,

Manda-o para Espanha,

Longe do imperador.

 

Aos pobres só lhe pediu,

Cada um comparecer,

Que o grande Valeriano,

A todos queria ver...

 

Assim o jovem Lourenço,

Cuja fé, nos faz inveja,

Levou ao imperador,

Os "tesouros" da Igreja!...

 

Da Igreja, e de quem vai

Socorrê-los, e merecer

O, VINDE BENDITOS DE MEU PAI,

TIVE FOME, DESTE-ME DE COMER!

 

Seriam trezentos pobres,

Diz um historiador,

Que o filho da Espanha,

Levou ao imperador.

 

Valeu-lhe, ser assado,

Numa grelha, ainda vivo:

Mas viram-no iluminado,

-E a troçar do perigo!!

 

Envolvia-o outro fogo,

Que não deixava doer:

"Deste lado, estou assado,

Virem-me, podem comer!"

 

Foi no dia 10 de Agosto.

E a palma, deste cristão,

Foi o último machado,

No velho culto pagão.

 

Padroeiro do meu Chão,

Escolha de nossos avós,

Ouvi a nossa Oração:

SÃO LOURENÇO, ROGAI POR NÓS!

 

 



 



 

 

 

 

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